terça-feira, 26 de julho de 2011

D. Afonso V, O Africano

Este Rei D.Afonso V, era filho de D. Duarte e neto de D.João I que iniciou a dinastia de Avis.
As governações do reino destes seus ascendentes bem como a do seu próprio filho D. João II, o Príncipe Perfeito, tem ofuscado a sua imagem. Mas, na verdade, o reinado de D. Afonso V foi fértil em acontecimentos que engrandeceram Portugal.
Os descobrimentos marítimos prosseguiram em bom ritmo tendo sido descobertas em 1452 as ilhas das Flores e do Corvo, nos Açores, e em 1456 é atingido o rio Geba na Guiné Portuguesa. Nesse mesmo ano as ilhas orientais de Cabo Verde foram descobertas por Cadamosto. Pero de Sintra chega à Serra Leoa em 1460. Nesse mesmo ano Diogo Afonso descobre as ilhas Ocidentais de Cabo Verde. Sob o comando de João de Santarém e Pero Escobar as caravelas portuguesas chegam ao Cabo das Três Pontas, aonde afluía o ouro do centro de África, cabo que por causa disso, passou a chamar-se da Mina. Fernando Pó entre 1471 e 1472 descobre a ilha que tem o seu nome e em 1472 é descoberta a ilha do Príncipe e pouco depois a de S. Tomé.
Mas, no reinado de D. Afonso V não só se prosseguiram as descobertas em bom ritmo como também se obtiveram resultados económicos positivos da exploração das terras descobertas e do comércio marítimo.
Por outro lado D. Afonso V levou a efeito ainda a conquista das praças fortes marroquinas como Alcácer Ceguer,  Arzila e Tânger. Obteve também Anafé, Larache e Tetuan.
Com Ceuta que havia sido tomada no reinado de D. João I, seu avô, tais conquistas representavam o domínio por Portugal da costa sul do estreito de Gibraltar.
No exercício do poder não foi, porém um rei autoritário como viria a ser o seu filho D. João II. Foi afável no trato, tendo também concedido muitas mercês e senhorios.
Desconcentrou e descentralizou o poder tendo ajudado a estruturar uma nobreza forte e activa.
Os descobrimentos e a inerente exploração das novas terras não trouxeram só vantagens para a Coroa, também as trouxeram para a nobreza, para a burguesia e para o semi-proletariado das cidades.
O estilo de D.Afonso V era dialogante e popular. Gostava de aparecer junto dos seus súbiditos, de ser visto a conviver com a população.
Visitava as casas nobres espalhadas por todo o reino, pondo ao corrente os seus donatários dos interesses e problemas do país. D. Afonso V, numa passagem em 1467 pelo norte de Portugal, albergou-se na casa de Fernão Coutinho em Porto Carreiro (entre Amarante e Marco de Canavezes) onde se encontrava uma jovem  antepassada de João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos de quem descendo. D. Afonso V já viúvo teve nela "seu ajuntamento, de sorte de que de ambos nasceu um menino a quem puseram o nome de Álvaro"
D. Álvaro, fidalgo nos tempos de D.Manuel e de D.João III, foi vereador da cidade do Porto por três vezes e dela seu guarda-mor. O referido João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos, meu antepassado, era décimo neto de El Rei D. Afonso V, em resultado da ligação que atrás referi.
Foi também D. Afonso V quem mandou construir a muralha de Viseu, cidade onde moro, muralha que circundava a antiga cidade e de que ainda existem alguns trechos e duas das suas sete primitivas portas: a dos Cavaleiros e a de Soar de Cima. Nesta última porta há a seguinte inscrição: "D. Afonso V mandou fazer em 1472".

quarta-feira, 20 de julho de 2011

D. João I, o de Boa Memória

Hoje a minha atenção fixa-se em D.João I, rei que iniciou a segunda dinastia da Monarquia Portuguesa.
D.João I foi filho bastardo de D. Pedro I, resultando de uma ligação que este último teve com D. Teresa Lourenço fidalga galega residente em Guimarães. Não foi, portanto, filho de D. Constança esposa legítima de D.Pedro nem de Inês de Castro, o grande amor da vida do referido rei.
D.João I, antes de tomar as rédeas da governação de Portugal, foi mestre da Ordem de S. Bento de Avis. E foi em Avis que se enamorou da filha de um sapateiro de Veiros, "O Barbadão", de quem teve uma filha de nome Brites e um filho de nome Afonso.
Este Afonso, filho bastardo de D.João I, tendo casado com a única filha de D. Nuno Alvares Pereira de nome Beatriz , recebeu de seu pai as terras e julgados de Neiva, de Aguiar, de Darque, Faria e todos os bens confiscados ao conde de Barcelos D. Gonçalo Telo que "desservira" o Rei, recebendo também o título de Conde de Barcelos.
Por outro lado recebeu de Nuno Alvares Pereira, seu sogro, Chaves, Montenegro, Montalegre, Barroso, Baltar, Paços de Ferreira e o condado de Ourém. Quando Nuno Alvares Pereira resolveu despojar-se de todos os seus bens e recolher ao Mosteiro do Carmo, D. Afonso recebeu ainda mais terras com o que construiu os alicerces do docado de Bragança.
Como é do conhecimento geral D.Nuno Alvares Pereira venceu os Castelhanos em Atoleiros, Trancoso, Aljubarrota e Valverde. Mas foi Aljubarrota a batalha decisiva na contenda com Castela e onde se cobriu de glória.
Quando teve conhecimento que as tropas castelhanas tinham entrado em Portugal e se dirigiam para Lisboa com vinte e cinco mil homens, D. Nuno aprontou-se a enfrentá-las cortando-lhes o caminho.
D. João I e alguns dos seus conselheiros não estiveram de acordo com essa decisão pretendendo antes entrar em Espanha pelo Alentejo, como retaliação à invasão castelhana. Mas o Contestável insistiu na sua ideia e com três mil homens a cavalo, trezentos besteiros e dois mil peões marchou imediatamente ao encontro dos Castelhanos de forma a cortar-lhes o passo. Em resultado da sua acção D.João I acabou por se lhe juntar em Tomar.
D.Nuno Alvares Pereira dispôs as tropas em lugar adequado e fez construir engenhoso dispositivo de fortificação e defesa.
Pela forma como D.Nuno se distinguiu na batalha decisiva de Aljubarrota, cobrindo-se de glória, levou mais tarde o rei a conceder-lhe diversas terras e benesses. Muitas dessas terras acabaram na posse da sua filha D. Beatriz casada com D. Afonso, bastardo de D.João I permitindo-lhe fundar o Ducado de Bragança. Este neto do "Barbadão", sapateiro de Veiros, foi o primeiro duque de Bragança e, muito mais tarde, um seu descendente, o oitavo Duque de Bragança inaugurou a quarta dinastia da Monarquia Portuguesa. como Rei D.João IV - O Restaurador.
NOTA: Na árvore genealógica da ascendência de João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos, Senhor da casa da Seara em Magrelos - Marco de Canavezes - elaborada por um seu tio frade em 1762 consta que o seu referido sobrinho era:
- sexto neto de D. Diogo Alvares Pereira;
- décimo segundo neto de D. João Alvares Pereira, Senhor da Casa dos Condes da Feira.
Na referida Casa brasonada da Seara nasceu e cresceu a bisávo Ana Augusta do autor deste escrito, descendente do referido João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O temperamento dos portugueses

O temperamento dos portugueses nunca se coadonou muito com o trabalho persistente e continuado.
Em Portugal houve sempre falta de artífices- A nossa grande inclinação tem sido o comércio.
Desde os primórdios da nossa vida como nação sempre proliferou o tráfico comercial na nossa orla marítima e os portugueses sempre concentraram as suas energias nas terras da beira-mar, em prejuízo das do interior.
Já no tempo de D. Fernando assim acontecia e, muito embora as legislações agrárias elaboradas na altura (Lei das Sesmarias) as herdades deixaram, progressivamente, do ser cultivadas acabando por nelas crescer o mato, como também acontece hoje...
Além do gosto pelo comércio também os portugueses sentiram sempre uma grande atracção pela actvidade de funcionário do Estado actividade que nunca obrigou a grandes esforços e sempre beneficiou de uma certa auréola de importância aqueles que a desempenhavam. Com o funcionalismo têm-se caído no exagero desde há muito. Já no tempo de D.João I parece que em seis pessoas que se juntassem uma era seguramente funcionária pública.
Hoje quase acontece isso também...
Mas o comércio, segundo se depreende da singular obra de António Sérgio "Breve Interpretação da História de Portugal" foi e ainda é a principal motivação da vida dos portugueses. E o auge dessa actividade foi atingido no tempo das descobertas, quando Lisboa se tornou no maior empório comercial do mundo, com o seu porto repleto de navios e as suas ruas devassadas por mercadores das mais diversas paragens. É que antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia os turcos, dominando o Levante, dificultavam a extraordinariamente o comércio com o Oriente.
A pimenta, por exemplo, que se vendia na Índia por dois a três cruzados o quintal era sujeita a pesados impostos nos pontos de passagem vendendo-se no Cairo a oitenta cruzados. Com a descoberta do caminho marítimo para a Índia foi possível, em Lisboa, comercializar-se o quintal de pimenta a trinta cruzados. Lisboa foi o maior centro comercial do mundo durante muitos anos. Por Portugal passava imensa riqueza. Mas só passava porque era no estrangeiro que essa riqueza fomentava trabalho. E de lá, do estrangeiro, nos vinha quase tudo o que consumíamos.
Como acontece, praticamente, hoje também...
O país, no tempo das descobertas, embora vivesse aparentemente no esplendor endividava-se para comprar cereais nos mercados europeus. Em fins de 1543, segundo António Sérgio, deviam-se em Flandres somas enormes pagando juros tão altos que as importâncias em dívida dobravam em quatro anos.
Não seria uma situação muito diferente da que atravessamos nos dias de hoje...
Mas isso não impediu nunca que em Lisboa se organizassem, com frequência, "cortejos em que luziam os rubis de Pegu e os diamantes de Nassinga, as safiras de Ceilão e as esmeraldas da Babilónia, se exibiam sedas da Pérsia e tecidos de Bengala, os veludos, as rendas, os anéis..."
De noite havia folguedos no Tejo, para o povo e os serões do Paço Real tinham fama em toda a Europa.
Em Lisboa havia músicos por toda a parte. Ninguém trabalhava nem produzia. Os barbeiros e os sapateiros eram estrangeiros.
D. Manuel I mandou, mesmo, procurar trabalhadores fora do país, como operários da construcção civil.
Vivia-se uma vida de aparências. Como hoje ...
Tal como acontece também no presente com alguns nossos contemporâneos que percorrem as artérias das cidades nas suas potentes e ruidosas máquinas automóveis, os fidalgotes desses tempos exibiam-se "pelas ruas, com mula ajaezada de oiro e muitos lacaios agaloados".