sábado, 24 de dezembro de 2011

D. Leonor - Marquesa de Alorna

Quando há alguns anos atrás tive conhecimento do namoro do meu sobrinho Tiago Magro com uma jovem da Casa de Alorna resolvi fazer uma leitura demorada e atenta das poesias da D. Leonor tendo ficado seduzido pela sua figura e pela sua produção literária.
Com o pseudónimo de Alcipe, D. Leonor escreveu poesia desde muito nova. É autora de seis volumes de Obras Poéticas tendo traduzido vários autores entre os quais Lamartine.
Fiquei deslumbrado pela sua cultura e emocionado com a história da sua vida.
O meu entusiasmo pela Marquesa foi tão grande que pensei mesmo escrever um livro de ficção sobre ela respeitando a sua biografia. Iniciei por isso a recolha de alguns textos publicados sobre D. Leonor e procurei interessar na realização do livro a colaboração de uma minha sobrinha professora da faculdade de Letras da Universidade de Évora.
D. Leonor além de uma grande poetisa percussora do romantismo no nosso país, foi a primeira mulher a ter lugar em todas as antologias portuguesas. Era detentora de uma grande inteligência e cultura sendo também dotada de uma grande beleza física. A história da sua vida é verdadeiramente emocionante. Nasceu em 1750 filha do Marquês de Alorna e neta do Marquês de Távora, uma vez que sua mãe era filha deste último fidalgo.
Viveu durante 26 anos no reinado de D. José, e ao que consta este nosso Rei teve um caso amoroso com a esposa de um seu tio materno, filho do Marquês de Távora. Este procurando reparar a honra da sua família teria preparado um atentado ao Rei disparando ou mandando disparar sobre D. José, quando ele regressava no seu coche de uma visita nocturna à sua nora. O Rei sofreu em resultado desse atentado ferimentos ligeiros, mas o Marquês de Pombal, primeiro ministro do reino e inimigo dos Távoras mandou-os prender sendo posteriormente degolados e os seus cadáveres queimados.
Quanto ao Marquês da Alorna por ter cedido uma arma aos Távoras e não ter alertado o Rei da preparação do atentado foi mandando encurralar na prisão das Junqueira. A sua esposa e as suas duas filhas: D.Leonor com oito anos e D. Maria com seis anos de idade foram internadas no Convento de Chelas e o irmão destas D. Pedro de quatro anos, dada a sua tenra idade foi entregue aos cuidados da Corte.
Foi no Convento de Chelas que D. Leonor evidenciou interesse pela poesia. Os seus primeiros versos chegaram ao conhecimento do médico do convento que era amigo do poeta Filinto Elísio que também os leu e apelidou a jovem poetisa de Alcipe. No Convento de Chelas onde permaneceu dezoito anos lê D'Alembert, Rousseau e as grandes figuras do passado: Fenelom, Bossuet, Racine, Corneille, etc. Lê ainda Voltaire e Buffon.
Só com a morte de D. José e com o afastamento do Marquês de Pombal é que termina ao fim de dezoito anos, a prisão de seu pai Marquês de Alorna e as clausuras de sua mãe, dela e de sua irmã.
A poetisa tinha já 26 anos de idade.
Ainda no convento em que a clausura não era rigorosa, ocorreram visitas ao locutório de vários seus admiradores. Entre os seus pretendentes há um jovem conde, oficial hanoveriano que havia sido trazido para Portugal pelo Conde de Lippe, seu parente, quando este foi incumbido da reforma do Exército Português. Já no reinado de D. Maria I, D. Leonor casa com o referido oficial, que se naturaliza  português e consegue o lugar de embaixador de Portugal em Viena de Áustria.
Aí Leonor vive durante doze anos o que lhe permitiu aprender a língua alemã e a familiar-se com os poetas do nascente romantismo, traduzindo Oberon de Wieland.
A morte do marido em 1793 deixa-a com cinco filhos menores aos 43 anos de idade.
Regressa a Portugal refugiando-se em Almeirim, onde os Marqueses da Alorna possuíam propriedades e uma casa senhorial ali passando alguns anos a criar e educar os seus filhos. Depois regressa a Lisboa. Funda mesmo uma associação literária a que deu o nome de Sociedade da Rosa. Os seus salões são frequentados pelos intelectuais da época. Mas o Intendente Pina Manique, no reinado de D. Maria, teme as reuniões desses intelectuais e as suas ideias revolucionárias vindas de França. Receia mesmo que a Sociedade da Rosa tenha fins maçónicos.
Persegue por isso D. Leonor e consegue deportá-la para Inglaterra. Na capital inglesa passa anos de muitas dificuldades económicas. Mas em Londres familiariza-se com a língua inglesa e lê grandes autores britânicos da época e traduz Pope e Gray.
Em 1814 regressa a Portugal. Tem 64 anos de idade. O seu irmão D. Pedro, que pela morte do seu pai, herdara o marquesado, tinha falecido no ano anterior (1813). Ele havia sido oficial, fazendo parte das tropas de Napoleão Bonaparte, tendo combatido na Rússia. Nessa altura já lhe havia sido retirado o título de Marquês, por haver suspeitas de que teria combatido ao lado dos franceses contra os portugueses aquando das invasões napoleónicas.
D. Leonor conseguiu provar que o seu irmão D. Pedro recusou sempre fazer parte das tropas que invadiram Portugal e nunca lutou contra os portugueses.
Conseguiu por isso reabilitar a memória do seu irmão sendo-lhe restituída a Casa de Alorna e o título de marquesa, sucedendo a D. Pedro por ser a sua irmã mais velha.
Deste último período da sua vida os intelectuais do seu tempo falam dela com muito respeito e imensa saudade. Alexandre Herculano, que no início da sua carreira literária frequentou assiduamente os salões da famosa Alcipe tece-lhe grandes elogios.
O romantismo português terá sido forjado em larga medida nos salões de D. Leonor.
No tempo em que tive a ideia de escrever a sua biografia ficcionada nada havia sido escrito sobre a vida dela. Durante o corrente ano de 2011 surgiram, porém,  duas obras inspiradas na sua vida:
- Marquesa de Alorna de Maria João Lopo de Caravalho;
- As Luzes de Leonor, a Marquesa de Alorna, com o subtítulo: uma sedutora de anjos, poetas e heróis de Maria Teresa Horta.
Não sendo anjo nem herói talvez por ser um fazedor de versos também fiquei seduzido pelas luzes da Leonor.

Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45).