terça-feira, 24 de julho de 2012

D.João II, o Príncipe Perfeito

D.João II foi filho de D. Afonso V, o Africano.
Em 1471 acompanhou o pai na expedição que tomou Arzila e Tânger aos Mouros e é nessa altura por ele armado cavaleiro, sendo-lhe entregue a condução dos assuntos relativos aos descobrimentos.
D.Afonso V, seu pai, segundo o cronista Rui de Pina "foy Pryncepe de muy graciosa presença, grande humanidade e doce conversação, mas foi em tanto extremo que pera Rey superior não foy muyto de louvar, porque com grande familiaridade que de sy, contra sua gravydade e estado real, muyto dava além de muytas  vezes não guardavam aquela reverência e acatamento que devyam, tomavam aynda atrevymento de lhe requerer e elle vergonha de lhe nom outorgar muytas e mayores cousas de que os mercimentos, nem onestidade nem o acrescentamento de património real requeriam, segundo todo o Rey e Prýncepe lhe obrigava". 
Em 1481 D. João II, por morte de D.Afonso V é aclamado Rei em Sintra.
Seu Pai, muito amado pelos cavaleiros e fidalgos, tinha distribuído entre eles terras e riquezas, sem se lembrar do seu filho herdeiro.
Quando tomou conta do Governo do País consta que D. João II teria declarado: "Meu Pai deixou-me Rei somente das estradas de Portugal".
Esforça-se por isso em obter a centralização do poder e entra em conflito com a nobreza, principalmente com a mais ligada à família Real. Em resultado disso alguns conspiram contra a sua vida e outros têm entendimentos secretos com os Reis de Castela no sentido de urdir um plano para contaminar a política ultramarina do soberano.
O Duque de Bragança  de quem se descobriu correspondência com sua prima, a Rainha D.Isabel de Castela, muito comprometedora, foi preso, julgado e sentenciado a ser decapitado em Évora no ano de 1488, tendo os seus principais cúmplices sido executados uns e banidos de Portugal os outros.
E no ano seguinte, explodiu uma conspiração concentrada em volta de D. Diogo, Duque de Viseu, primo co-irmão do Rei. Essa conspiração tinha em vista a captura e possível morte do Rei, seguida da coroação do Duque de Viseu.
A trama foi descoberta e D. Diogo foi morto, possivelmente pelo próprio Rei.
Depois destes acontecimentos deixou de haver problemas com os grandes fidalgos que dai em diante passaram a ser inofensivos e até obedientes ao trono.
D. João II pode então dedicar-se à grandiosa expansão marítima. Mandou erguer em S.João da Mina, no Golfo da Guiné uma fortaleza.
À volta dela logo cresceu uma vila - a mais antiga feitoria de brancos estabelecida naquela costa - aonde iam as tribos do interior transaccionar ouro com os portugueses.
Diogo Cão descobriu o grande rio Congo, chamado assim pelos nativos do Zaire.
E em 1488 Bartolomeu Dias dobrou o Cabo das Tormentas, depois chamado Cabo da Boa Esperança, grande passo para se atingir a Índia, por via marítima.
D.João II depois de dobrado o Cabo da Boa Esperança começou a preparar a grande viagem que deveria ser realizada por navios pesados - naus de alto bordo, com velas quadradas, próprias para aguentar as tempestades do Oceano meridional.
Os navios seriam todos novos, especialmente construídos pelos melhores artífices e com as melhores madeiras para a viagem por mar até à Índia.
Mas, entretanto o Rei adoece gravemente o que o levou a fazer testamento, nomeando seu primo, o Duque de Beja, D. Manuel por herdeiro, uma vez que o seu único filho de nome Afonso havia falecido quatro anos antes num acidente a cavalo, quando galopava com um jovem companheiro nas margens do rio Tejo, em Santarém.
Em 1494 resolveu viajar até ao Algarve procurando a cura dos seus males nas águas termais de Monchique.
Sentindo algumas melhoras algum tempo depois resolveu ir caçar nos bosques húmidos da Serra num dia frio e chuvoso no Outono de 1494.
Teve em resultado disso uma severa recaída. Logo que lhe foi possível montar a cavalo o Rei resolveu descer da Serra em direcção a Alvor em 24 de Outubro de 1494 aonde chegou muito enfraquecido.
Alvor nesse tempo, era uma pequena povoação de pescadores junto à baía de Lagos. Numa elevação fronteira ao mar havia um pequeno castelo.
Foi recolher-se a casa do Alcaide desse castelo e lá morreu no referido dia 24 de Outubro de 1494.
Os seus acompanhantes e o próprio Alcaide consideraram não ter Alvor condições para fazer as exéquias mortais ao Rei de Portugal dada a modéstia das instalações existentes nesse tempo no local.
Por isso resolveram levar o caixão contendo o seu corpo para a Sé de Silves.
Durante a noite, à luz das tochas, debaixo de mortalha de veludo negro, seguido pela gente de Alvor que quebrava o silêncio nocturno com os seus gemidos, foi levado para Silves e o seu cadáver depositado na Sé em frente ao altar.
Quatro anos mais tarde D. Manuel ordenou que fosse levado o seu corpo para junto dos seus antepassados no mosteiro da Batalha.