terça-feira, 22 de julho de 2014

A Monarquia do Norte

Paiva Couceiro foi dos poucos que defenderam a monarquia em quatro e cinco de Outubro de 1910. Comandou as baterias de artilharia fixa de Queluz que bombardearam a rotunda do Marquês de Pombal onde estavam acampados os revolucionários republicanos.
Implantada a República pediu a demissão do exército e iniciou a sua vida política convertendo-se em paladino da restauração.
Henrique de Paiva Couceiro havia sido oficial de artilharia e herói nas campanhas do Ultramar. Por D. Carlos foi agraciado Cavaleiro da Torre e Espada em dezoito de Dezembro de 1890 e oficial da mesma ordem em vinte e nove de Maio de 1891. Tomou parte em todas as grandes jornadas da campanha de 1895 em Angola e teve grande influência na liquidação da revolta das chamadas Terras da Coroa.
Recebe, por isso, diversas honrosas distinções. As Cortes, em Abril de 1896, proclamaram-no mesmo benemérito da Pátria. E é nomeado Governador-Geral de Angola, por expressa indicação do Rei D. Carlos.
Nessa função desenvolve uma obra intensa de ocupação e organização no Cuamato, nos Dembos, e em Ambriz no Zaire, tendo a sua governação sido mais tarde muito elogiada pelo general Norton de Matos.
Inconformado com a instauração da República em Portugal participou entre 1911 e 1912 em diversas tentativas no sentido de restaurar a monarquia, tentativas que não resultaram. E em dezanove de Janeiro de  1919, logo a seguir ao assassinato de Sidónio Pais, consegue mesmo proclamar no Porto a Monarquia do Norte sendo o presidente da sua Junta Governativa.
A revolução eclodiu em Santarém a doze de Janeiro do referido ano, alastrando-se ao norte do Douro e em parte da Beira Alta.
Dessa campanha monárquica fez parte João do Carmo Magro primo direito do meu avô.
Gorado o restabelecimento da monarquia e reforçado o regime republicano, Paiva Couceiro tenta manter-se por algum tempo à margem da vida política. Mas o seu inconformismo acabou por resultar no seu exílio nas ilhas Canárias já no Governo do Estado Novo.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

As Cavalhadas de Vildemoinhos

No ano de 1652 Portugal sofreu um grande período de seca. A seca foi de tal maneira grave que as culturas agrícolas foram muito afectadas.
Em Viseu, como em geral em todo o país, essa calamidade prejudicou os agricultores desse tempo.
Os proprietários dos terrenos agrícolas das margens do rio Pavia, que corre junto à cidade de Viseu, ordenaram aos seus trabalhadores rurais que desviassem parte das águas do referido rio a fim de poderem regar as suas propriedades. Dessa situação resultou que o rio Pavia viu muito diminuído o seu já pequeno caudal, de tal forma diminuído que quando o rio passava em Vildemoinhos as suas águas não tinham força para moverem as mós dos moinhos lá existentes.
Vildemoinhos é uma povoação dos arredores de Viseu, onde desde longa data os seus habitantes se dedicam à moagem  do trigo e do milho e à fazedura do pão.
Nesse ano de 1652, dado o pequeno caudal do rio Pavia, as mós dos moinhos pararam, não permitindo fazer farinha e sem farinha não se pode fabricar o pão. Por isso, quando tiveram conhecimento do desvio  a montante das águas do rio os homens de Vildemoinhos levantaram-se num grande protesto e, organizando-se em grupos, reposeram de noite as águas desviadas no seu curso natural.
Essa atitude provocou uma grande contenda dos proprietários das terras contra os moleiros e padeiros de Vildemoinhos. As escaramuças foram tão grandes que as autoridades locais tiveram de intervir tendo sido entregue ao juiz da comarca o julgamento da situação existente. Com esse encaminhamento do processo os moleiros serenaram, aguardando a resolução do caso. Mas não muito confiantes na justiça dos homens logo solicitaram a protecção de São João prometendo que, no caso de vencerem a causa, todos os anos iriam à Capela de S. João da Carreira, no dia do referido Santo, montados nos seus cavalo e jumentos, prestar-lhe homenagem e demonstrar-lhe gratidão.
O meritíssimo juiz de Viseu na sua douta sentença declarou que o Rio Pavia não era pertença de ninguém. Todos poderiam utilizar as suas águas, sem as conspurcar, mas não era permitido desviá-las do seu curso natural.
Ficaram muito reconhecidos os homens e mulheres de Vildemoinhos ao Santo e todos os anos desde essa remota data, isto é desde há 362 anos, no dia de São João, representantes do moleiros e padeiros da referida povoação, montados nos seus cavalos vão até à capela da Carreira, do outro lado da cidade, agradecer ao Santo a sua ajuda no pleito que tiveram com os proprietários da terras.
Mas de Vildemoinhos até Viseu não vão sozinhos. São seguidos por um numeroso cortejo de carros alegóricos de que fazem parte alguns moleiros fabricando farinha nas suas mós, alguns padeiros fazendo pão nos seus fornos e cesteiros criando bolsas e cestos de verga.  Há também outros carros invocando assuntos actuais da vida nacional e de Viseu. O cortejo onde também são incorporadas bandas de música popular percorre as ruas centrais de Viseu antes de regressar a Vildemoinhos.E é sempre lembrado nesse cortejo o Lusitano, clube da terra, e Carlos Lopes campeão olímpico da maratona de Los Angeles em 1984 por ser um dos seus, uma vez que nasceu em Vildemoinhos.



sábado, 28 de junho de 2014

A Revolta da Maria da Fonte

Foi chamada assim a rebelião que eclodiu no Minho, em Abril de 1846, durante o governo de Costa Cabral, no tempo da Rainha D. Maria II.
Começou por ser uma pequena arruaça de mulheres que tinha por cabecilha Maria da Fonte, uma rapariga da aldeia de Fonte Arcada, pertencente ao concelho de Póvoa de Lanhoso, no Minho.
Esta arruaça teve como causa, ou pretexto, a não aceitação das leis de Costa Cabral que proibiam os enterros nas igrejas.
A primeira manifestação verificou-se em 19 de Março de 1846 quando um grupo de mulheres armadas de chuços e foices, na aldeia de Santo André de Frades, concelho de Póvoa de Lanhoso, obrigou o pároco a dar sepultura dentro da igreja ao corpo de uma mulher que ia a enterrar.
Os tumultos prosseguiram e no mês seguinte alastraram por todo o Minho e Trás-os-Montes, começando a tomar uma feição de luta de guerrilhas e de movimento miguelista  perante a intervenção  de uma força de infantaria vinda de Braga.
Costa Cabral pediu às câmaras poderes extraordinários para restabelecer a ordem. Esses poderes - suspensão de garantias, lei marcial - foram concedidos apesar da oposição de muitos deputados. Costa Cabral enviou então para o Norte, como comissário do governo, seu irmão José, ao tempo ministro da Justiça, para sufocar a rebelião.
As medidas que este tomou mais excitaram os ânimos e acenderam a revolta. Em Vila Real surge a primeira Junta Provincial revoltosa, presidida pelo morgado Mateus, logo seguida de outras espalhadas por todo Norte, pelas Beiras e até pela Estremadura. Também em Santarém se organiza uma Junta, presidida por Manuel Passos, ao mesmo tempo que o visconde de Vinhais que comandava a divisão miliciana de Trás-os-Montes se coloca ao lado dos revoltosos.
José Costa Cabral vê-se obrigado a regressar a Lisboa. Perante tão grave alastramento do movimento revolucionário o Duque da Terceira, presidente do Ministério, convocou uma reunião do gabinete a que presidiu a própria Rainha, aí declarando que não tinha força suficiente para debelar a revolta e propondo, como único meio de lhe pôr cobro, a imediata demissão do Ministério.  Perante a gravidade da situação, apesar da protecção que sempre dispensara a Costa Cabral, a Rainha concordou.
O movimento saíra pois vencedor e os irmãos Cabral, vencidos, emigraram para Espanha.
Nesse tempo era compositor residente no Teatro Nacional de S. Carlos o maestro Ângelo Frondoni. Ocupava esse lugar por concurso público tendo sido preferido entre outros concorrentes dos quais constava um nome que foi mais tarde reconhecido mundialmente: Giuseppe Verdi.
Ângelo Frondoni entusiasmado com a revolta das mulheres, encabeçada pela Maria da Fonte Arcada compôs a música vibrante do Hino da Maria da Fonte, também conhecido por Hino do Minho, hino que ultrapassou as barreiras do tempo por ser considerada uma obra prima entre as composições do seu género, sendo ainda nos tempos actuais muitas vezes executada por orquestras sinfónicas.

sábado, 10 de maio de 2014

Os trágicos amores de D. Pedro por Inês

Inês de Castro, filha do fidalgo galego D. Pedro Fernandes de Castro, foi uma das damas que acompanharam Dona Constança quando esta veio para Portugal para casar com o Infante D. Pedro, filho do nosso Rei D. Afonso IV.
Inês de Castro era detentora de uma grande beleza. Era loira, de pele muito branca e tinha um pescoço que se assemelhava a um "colo de garça".
D. Pedro, depois de casado com D. Constança, apaixonou-se por Inês.
Este Infante, que mais tarde veio a reinar em Portugal como Rei D. Pedro I, tinha um temperamento nervoso e agitado, o que por vezes o levava a ter atitudes exageradas e a decisões imponderadas.
D. Pedro, ainda em vida da Dona Constança, leva Inês para Coimbra e assenta-lhe côrte nos Paços da Rainha Santa Isabel, sua avó. E ali Pedro e Inês vivem em "maridança" e têm filhos.
Nesse Paço também se acolhem parentes e aderentes de Dona Inês de Castro, destacando-se, entre todos, seus irmãos D. Fernando e D. Álvaro. Mas além destes, de acordo com várias fontes, ali também se refugiam diversos fidalgos de Espanha, inimigos de D. Pedro, homónimo do nosso Infante, Rei de Castela e Leão.
Nesses Paços de Coimbra a língua corrente passa a dada altura a ser a castelhana e aí é criado um grupo oposicionista a D. Pedro de Castela liderado pelos irmãos de Dona Inês que tentam também juntar  à sua causa o Infante português.
O referido D. Pedro de Castela e Leão havia-se desquitado da sua esposa a Rainha Dona Branca e havia vivido em comum com a irmã de Dona Inês de nome Dona Joana de Castro, que mais tarde também engeitou.
Vivia na altura com uma amante de nome Dona Maria Padilha.
Por outro lado o referido Rei de Castela e Leão, cognominado "O Cru" afogava em sangue os descontentes do seu Reino.
Os refugiados de Castela tentavam aliciar o nosso Infante D. Pedro, no sentido de que logo que tomasse o Governo de Portugal, movesse uma guerra contra Castela a fim de derrubar o seu legítimo Rei apoderando-se do seu Reino.
E os irmãos de Dona Inês: D. Fernando de Casto e D. Álvaro de Castro eram quem mais se destacava nessa conjura. E foram principalmente esses os motivos que, em 1355, levaram os conselheiros de D. Afonso IV: Pêro Viegas Coelho (sobrinho de D. Gonçalo Viegas Magro), Diogo Lopes Pacheco e Álvaro Gonçalves Pereira a instigar o Rei no sentido de ordenar a execução de Dona Inês de Castro por temerem que a referido trama viesse a trazer diversos malefícios para o País um dos quais poderia vir a ser o afastamento do trono do Infante D. Fernando (filho de D. Pedro e de Dona Constança) sendo considerado herdeiro do trono de Portugal o filho mais velho de D. Pedro e de Dona Inês, que teriam possivelmente casado em Bragança, em segredo em 1363, quando Dona Constança já havia falecido.

O nascimento de Nuno Alvares Pereira

O apelido Pereira é de origem portuguesa e o primeiro a usá-lo foi D. Rui Gonçalves Pereira.
D. Rui Gonçalves Pereira casou duas vezes: a primeira vez com Dona Inês Sanches e a segunda com Dona Sancha Henriques Magro, filha de D. Henrique Fernandes Magro e de Dona Ouroana Reimondes de Portocarreiro. Do segundo casamento nasceram dois filhos: D. Pedro Rodrigues de Portocarreiro e Dona Froile Rodrigues que casou com D. Pedro Fernandes de Portugal.
Desta última família nasceu mais tarde D. Nuno Alvares Pereira condestável de D. João I. Era filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira, prior do Crato, que fundou em 1356, na Flôr da Rosa, uma igreja e um mosteiro torreado, onde pretendia vir a ser sepultado ao lado dos restos mortais de seus pais, o arcebispo de Braga D. Gonçalo Pereira e Tareja Pires Vilarinho, a Salamanquina.
D. Frei Álvaro, segundo Oliveira Martins, era um homem poderosíssimo que privara com El Rei D. Afonso IV e com El Rei D. Pedro, tendo sido também uma das figuras eminentes no tempo de D. Fernando. A sua sabedoria na arte de astrologia era grande pondo um minucioso cuidado nas suas demoradas práticas com mestre Tomás, o astrólogo, traçando os vaticínios do tempo.
Oliveira Martins traça-lhe da seguinte forma o seu perfil humano: "Era um grande braço, era um grande cérebro, era um grande coração D. Frei Álvaro, e tudo isto era espontaneamente, à lei da natureza, levado pelos impulsos da vontade, pelos assomos do orgulho fidalgo, pela violência de um temperamento carnal.
Na sua longa vida, apesar dos votos proferidos antes dos dezoito anos, que foi quando o fizeram prior do Hospital,  teve muitos amores e trinta e dois filhos machos e fêmeas. O mais velho chamava-se Pedro, Pedro Alvares (filho de Álvaro) e foi quem lhe sucedeu no priorado; entre os menores estava Nuno Alvares, que nasceu no dia de S. João, em 1360, no Castelo de Sernache de Bonjardim filho de uma aia da Côrte, por nome Iria Gonçalves do Carvalhal.
Quando esta aventura pagâ teve o seu desfecho com o parto de Iria do Carvalhal no mosteiro de Bonjardim o pai D. Frei Álvaro e o astrólogo mestre Tomás apressaram-se a tirar o vaticínio do recém-nascido e o oráculo disse que o novo bastardo seria invencível. Vinha ao mundo como o Precursor; os signos afirmaram que seria um prodígio; o pai exultava e a mãe sorria."