sábado, 28 de junho de 2014

A Revolta da Maria da Fonte

Foi chamada assim a rebelião que eclodiu no Minho, em Abril de 1846, durante o governo de Costa Cabral, no tempo da Rainha D. Maria II.
Começou por ser uma pequena arruaça de mulheres que tinha por cabecilha Maria da Fonte, uma rapariga da aldeia de Fonte Arcada, pertencente ao concelho de Póvoa de Lanhoso, no Minho.
Esta arruaça teve como causa, ou pretexto, a não aceitação das leis de Costa Cabral que proibiam os enterros nas igrejas.
A primeira manifestação verificou-se em 19 de Março de 1846 quando um grupo de mulheres armadas de chuços e foices, na aldeia de Santo André de Frades, concelho de Póvoa de Lanhoso, obrigou o pároco a dar sepultura dentro da igreja ao corpo de uma mulher que ia a enterrar.
Os tumultos prosseguiram e no mês seguinte alastraram por todo o Minho e Trás-os-Montes, começando a tomar uma feição de luta de guerrilhas e de movimento miguelista  perante a intervenção  de uma força de infantaria vinda de Braga.
Costa Cabral pediu às câmaras poderes extraordinários para restabelecer a ordem. Esses poderes - suspensão de garantias, lei marcial - foram concedidos apesar da oposição de muitos deputados. Costa Cabral enviou então para o Norte, como comissário do governo, seu irmão José, ao tempo ministro da Justiça, para sufocar a rebelião.
As medidas que este tomou mais excitaram os ânimos e acenderam a revolta. Em Vila Real surge a primeira Junta Provincial revoltosa, presidida pelo morgado Mateus, logo seguida de outras espalhadas por todo Norte, pelas Beiras e até pela Estremadura. Também em Santarém se organiza uma Junta, presidida por Manuel Passos, ao mesmo tempo que o visconde de Vinhais que comandava a divisão miliciana de Trás-os-Montes se coloca ao lado dos revoltosos.
José Costa Cabral vê-se obrigado a regressar a Lisboa. Perante tão grave alastramento do movimento revolucionário o Duque da Terceira, presidente do Ministério, convocou uma reunião do gabinete a que presidiu a própria Rainha, aí declarando que não tinha força suficiente para debelar a revolta e propondo, como único meio de lhe pôr cobro, a imediata demissão do Ministério.  Perante a gravidade da situação, apesar da protecção que sempre dispensara a Costa Cabral, a Rainha concordou.
O movimento saíra pois vencedor e os irmãos Cabral, vencidos, emigraram para Espanha.
Nesse tempo era compositor residente no Teatro Nacional de S. Carlos o maestro Ângelo Frondoni. Ocupava esse lugar por concurso público tendo sido preferido entre outros concorrentes dos quais constava um nome que foi mais tarde reconhecido mundialmente: Giuseppe Verdi.
Ângelo Frondoni entusiasmado com a revolta das mulheres, encabeçada pela Maria da Fonte Arcada compôs a música vibrante do Hino da Maria da Fonte, também conhecido por Hino do Minho, hino que ultrapassou as barreiras do tempo por ser considerada uma obra prima entre as composições do seu género, sendo ainda nos tempos actuais muitas vezes executada por orquestras sinfónicas.

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