sábado, 24 de dezembro de 2011

D. Leonor - Marquesa de Alorna

Quando há alguns anos atrás tive conhecimento do namoro do meu sobrinho Tiago Magro com uma jovem da Casa de Alorna resolvi fazer uma leitura demorada e atenta das poesias da D. Leonor tendo ficado seduzido pela sua figura e pela sua produção literária.
Com o pseudónimo de Alcipe, D. Leonor escreveu poesia desde muito nova. É autora de seis volumes de Obras Poéticas tendo traduzido vários autores entre os quais Lamartine.
Fiquei deslumbrado pela sua cultura e emocionado com a história da sua vida.
O meu entusiasmo pela Marquesa foi tão grande que pensei mesmo escrever um livro de ficção sobre ela respeitando a sua biografia. Iniciei por isso a recolha de alguns textos publicados sobre D. Leonor e procurei interessar na realização do livro a colaboração de uma minha sobrinha professora da faculdade de Letras da Universidade de Évora.
D. Leonor além de uma grande poetisa percussora do romantismo no nosso país, foi a primeira mulher a ter lugar em todas as antologias portuguesas. Era detentora de uma grande inteligência e cultura sendo também dotada de uma grande beleza física. A história da sua vida é verdadeiramente emocionante. Nasceu em 1750 filha do Marquês de Alorna e neta do Marquês de Távora, uma vez que sua mãe era filha deste último fidalgo.
Viveu durante 26 anos no reinado de D. José, e ao que consta este nosso Rei teve um caso amoroso com a esposa de um seu tio materno, filho do Marquês de Távora. Este procurando reparar a honra da sua família teria preparado um atentado ao Rei disparando ou mandando disparar sobre D. José, quando ele regressava no seu coche de uma visita nocturna à sua nora. O Rei sofreu em resultado desse atentado ferimentos ligeiros, mas o Marquês de Pombal, primeiro ministro do reino e inimigo dos Távoras mandou-os prender sendo posteriormente degolados e os seus cadáveres queimados.
Quanto ao Marquês da Alorna por ter cedido uma arma aos Távoras e não ter alertado o Rei da preparação do atentado foi mandando encurralar na prisão das Junqueira. A sua esposa e as suas duas filhas: D.Leonor com oito anos e D. Maria com seis anos de idade foram internadas no Convento de Chelas e o irmão destas D. Pedro de quatro anos, dada a sua tenra idade foi entregue aos cuidados da Corte.
Foi no Convento de Chelas que D. Leonor evidenciou interesse pela poesia. Os seus primeiros versos chegaram ao conhecimento do médico do convento que era amigo do poeta Filinto Elísio que também os leu e apelidou a jovem poetisa de Alcipe. No Convento de Chelas onde permaneceu dezoito anos lê D'Alembert, Rousseau e as grandes figuras do passado: Fenelom, Bossuet, Racine, Corneille, etc. Lê ainda Voltaire e Buffon.
Só com a morte de D. José e com o afastamento do Marquês de Pombal é que termina ao fim de dezoito anos, a prisão de seu pai Marquês de Alorna e as clausuras de sua mãe, dela e de sua irmã.
A poetisa tinha já 26 anos de idade.
Ainda no convento em que a clausura não era rigorosa, ocorreram visitas ao locutório de vários seus admiradores. Entre os seus pretendentes há um jovem conde, oficial hanoveriano que havia sido trazido para Portugal pelo Conde de Lippe, seu parente, quando este foi incumbido da reforma do Exército Português. Já no reinado de D. Maria I, D. Leonor casa com o referido oficial, que se naturaliza  português e consegue o lugar de embaixador de Portugal em Viena de Áustria.
Aí Leonor vive durante doze anos o que lhe permitiu aprender a língua alemã e a familiar-se com os poetas do nascente romantismo, traduzindo Oberon de Wieland.
A morte do marido em 1793 deixa-a com cinco filhos menores aos 43 anos de idade.
Regressa a Portugal refugiando-se em Almeirim, onde os Marqueses da Alorna possuíam propriedades e uma casa senhorial ali passando alguns anos a criar e educar os seus filhos. Depois regressa a Lisboa. Funda mesmo uma associação literária a que deu o nome de Sociedade da Rosa. Os seus salões são frequentados pelos intelectuais da época. Mas o Intendente Pina Manique, no reinado de D. Maria, teme as reuniões desses intelectuais e as suas ideias revolucionárias vindas de França. Receia mesmo que a Sociedade da Rosa tenha fins maçónicos.
Persegue por isso D. Leonor e consegue deportá-la para Inglaterra. Na capital inglesa passa anos de muitas dificuldades económicas. Mas em Londres familiariza-se com a língua inglesa e lê grandes autores britânicos da época e traduz Pope e Gray.
Em 1814 regressa a Portugal. Tem 64 anos de idade. O seu irmão D. Pedro, que pela morte do seu pai, herdara o marquesado, tinha falecido no ano anterior (1813). Ele havia sido oficial, fazendo parte das tropas de Napoleão Bonaparte, tendo combatido na Rússia. Nessa altura já lhe havia sido retirado o título de Marquês, por haver suspeitas de que teria combatido ao lado dos franceses contra os portugueses aquando das invasões napoleónicas.
D. Leonor conseguiu provar que o seu irmão D. Pedro recusou sempre fazer parte das tropas que invadiram Portugal e nunca lutou contra os portugueses.
Conseguiu por isso reabilitar a memória do seu irmão sendo-lhe restituída a Casa de Alorna e o título de marquesa, sucedendo a D. Pedro por ser a sua irmã mais velha.
Deste último período da sua vida os intelectuais do seu tempo falam dela com muito respeito e imensa saudade. Alexandre Herculano, que no início da sua carreira literária frequentou assiduamente os salões da famosa Alcipe tece-lhe grandes elogios.
O romantismo português terá sido forjado em larga medida nos salões de D. Leonor.
No tempo em que tive a ideia de escrever a sua biografia ficcionada nada havia sido escrito sobre a vida dela. Durante o corrente ano de 2011 surgiram, porém,  duas obras inspiradas na sua vida:
- Marquesa de Alorna de Maria João Lopo de Caravalho;
- As Luzes de Leonor, a Marquesa de Alorna, com o subtítulo: uma sedutora de anjos, poetas e heróis de Maria Teresa Horta.
Não sendo anjo nem herói talvez por ser um fazedor de versos também fiquei seduzido pelas luzes da Leonor.

Texto redigido de acordo com as normas do antigo Acordo Ortográfico (Decreto lei 35.228/45).

sábado, 19 de novembro de 2011

José Sócrates, o filosófo

É difícil de acreditar que aqueles que governaram Portugal nos últimos anos se não tenham apercebido do caminho para a ruína que corria o país com a orientação que davam aos negócios do Estado.
Viveu-se em Portugal nos últimos quinze anos de um modo intolerável, numa verdadeira loucura:
- o governo a gastar mais do que se produzia;
- algumas Câmaras Municipais apostadas em ver qual delas era capaz de se endividar mais;
- e os portugueses, em geral, a adquirir tudo a crédito.
Um contínuo do Organismo do Estado onde eu trabalhara teve uma contenda com uma jovem engenheira que também estava lá colocada, por causa de um lugar de estacionamento automóvel no parque privativo dos serviços. A engenheira, por ser engenheira, achava que tinha mais direito ao lugar que o contínuo e este, sendo funcionário do mesmo organismo teria considerado que o seu direito ao lugar era o mesmo que o dela.
Palavra puxa palavra os ânimos exaltaram-se e a engenheira deu um empurrão ao contínuo. Este, aguentando-se, ripostou também com um empurrão na engenheira. Ela mais frágil, foi se abaixo das pernas e caiu redonda no chão do parque do estacionamento. Partiu os óculos e sofreu algumas esquimoses na cara e nos braços.
Quando me relataram este caso admirei-me por o contínuo ter automóvel próprio dado o seu baixo ordenado, mas logo me informaram que não tinha um só, mas possuía dois carros.
A mulher que vendia pão fazia a distribuição do mesmo noutro automóvel.
A minha empregada doméstica gaba-se que as suas máquinas de lavar a roupa e a louça são melhores que as minhas e o frigorífico também. Tal como fez o contínuo com os carros, ela adquiriu tudo a crédito.
Nos últimos anos o país estava a tornar-se numa terra de proprietários hipotecados.
Quem queria casar ou mudar de residência comprava casa com uma hipoteca a satisfazer entre vinte a trinta anos. Os bancos faziam uma propaganda aliciante no sentido de facultarem dinheiro com grande facilidade sem procurarem saber se os seus futuros credores assegurariam o reembolso das importâncias postas à sua disposição.
Enquanto isto se passava por todo o lado alguns lúcidos observadores iam avisando repetidamente que os portugueses estavam a seguir um caminho que só poderia desembocar no endividamento e na falência.
Nos últimos anos a evidência deste fim trágico era cada vez maior...
Porém do primeiro ministro de Portugal, engenheiro técnico José Sócrates, não surgiam quaisquer medidas.
Passava os dias a filosofar, afastado da realidade existente. Para ele tudo estava controlado e o caminho a seguir não poderia ser outro senão o de investir, investir mesmo em obras não rentáveis, construindo mais auto-estradas, um novo aeroporto internacional em Lisboa, uma terceira ponte sobre o rio Tejo e a ligação a Espanha e à Europa pelo comboio de alta velocidade.
Enchia o peito de ar e, filosofando, prometia continuar a sua política seguindo em frente, sempre em frente a caminho do precipício. Quanto ao capital necessário para levar a efeito essas referidas grandes obras contava com a contribuição da Europa e com empréstimos de bancos portugueses e estrangeiros.
O enorme défice das contas do estado e o endividamento do país não o assustava. Enchia o peito de ar e filosofava afirmando que essas grandes obras dariam trabalho a muita gente e criariam riqueza, além de aproximar Portugal dos países mais desenvolvidos da Europa e do Mundo.
A sua predisposição para filosofar foi no que deu. Estamos agora a pagar os seus desvarios.
Quanto ao engenheiro técnico Sócrates, ao que julgo saber, deixou Portugal e há quem diga que ele continua a filosofar por terras de França. Que Deus o conserve muito tempo por lá.

sábado, 17 de setembro de 2011

João Torto,o homem voador

Na esmagadora maioria são homens os autores das crónicas que nos relatam acontecimentos passados ao longo da nossa história.
Houve, porém, também algumas (poucas) mulheres que nos dão testemunho de factos que presenciaram, de que tiveram conhecimento ou que simplesmente inventaram.
Uma delas foi a filha bastarda de um fidalgo da casa de S. Miguel de Fornos de nome D. Maria Glória, que assinou as suas crónicas com o pseudónimo de Ana Gomes.
Desta cronista visiense  há o relato da incrível aventura de um Ícaro de nome João Torto que em 1540 com a ajuda de duas asas articuladas ligadas aos seus braços, voou desde a Torre da Sé, da Catedral de Viseu, até à Capela de São Luís que se situava nas proximidades da ribeira ( Rio Pavia).
O padre Henrique Cid, falecido em 1910, autor de uma colectânea com o título de "Efemérides", descobriu nos Arquivos Municipais de Viseu esta interessantíssima história da referida cronista que passo de imediato a transcrever: "Em Junho de 1540, João de Almeida Torto, enfermeiro do hospital, e mestre das primeiras letras, mandou deitar pela cidade o seguinte pregão:
Saibam todos os senhores habitantes desta cidade, que não terminará este mês sem se ver a maior das maravilhas, a qual vem a ser um homem desta cidade voar, com asas feitiças, da Torre da Sé ao Campo de São Mateus , pelo que responde por sua pessoa e bens- João de Almeida Torto."
Esta notícia alvoroçou a cidade toda e cada qual dos seus habitantes esperava com ansiedade a ocasião de ver tão estupenda maravilha. A pedido da mulher, impôs-lhe (ao Torto) o Juiz do Povo a obrigação de fazer testamento em benefício dela, pois, como filhos não havia, era para os irmãos se tal não fizesse. A pobre mulherzinha tanto lastimava aquela doidice do marido que muita gente comoveu, mas todos tinham no pobre louco confiança no bom êxito da empresa.
Segundo pregão anunciou o dia 20 de Junho pelas 5 horas da manhã.
Na véspera, algumas pessoas acompanhadas do Juiz do Povo, dirigiram-se a casa do inventor e pediram-lhe se lhes mostrava o seu maravilhoso invento. O bom homem não só mostrou o invento, mas deu categóricas explicações do modo de obrar e do fim que tinha cada uma das peças.
As asas, eram de pano forte e duplas, isto é, eram duas de cada lado, sendo mais pequenas as inferiores e semelhantes a uma asa de ave. Estas duas asas estavam ligadas por três argolas de ferro, enchumaçadas em trapos e era por elas que o Almeida devia meter os braços. Além disso estavam ligadas, por a parte superior, por duas dobradiças de ferro e pela parte inferior por um cinto de cabedal. Os sapatos eram de solas tríplices, havendo entre elas espaços para atenuar a queda. Tinha também um barrete do feitio de uma cabeça de pássaro, com um bico enorme e aberto.
O inventor levou a sua complacência a vestir o aparelho e a elevar-se alguns pés acima do solo e a dar uma volta pelo quintal.
No dia seguinte, ainda a aurora não tinha despontado e já o Campo de São Mateus estava coberto de espectadores que vinham dos povos e quintas circunvizinhas e o Adro cheio de gente da cidade.
Às quatro horas era enorme a multidão de povo. O novo Ícaro subiu à Torre da Sé e para lá guindou por uma corda o seu aparelho, sendo neste serviço coadjuvado por algumas pessoas. A mulher estava à porta da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, contemplando tristemente as manobras. O homem, às cinco horas, precisamente, já preparado, saltou da Torre e fazendo manobrar as asas descreveu demoradamente uma linha inclinada, tomando por mira a capela de São Mateus.
Foi bem até certo ponto, mas uma das asas deixou de trabalhar e o barrete caindo-lhe para os olhos o fez descrever uma linha em arco e sempre descendente até que ficou em pé sobre o telhado da capela de São Luís, mas logo caiu ficando sobre as asas. Dali o tiraram sem sentimento. Desembaraçando-o do aparelho viu-se que tinha o braço esquerdo deslocado no ombro e em volta da cintura a impressão do cinto. Um dos sapatos desapareceu na trajectória. Uma das dobradiças tinha emperrado de tal forma que nem a martelo se pode dobrar. O homem voltou a si, duas horas depois, sem o menor juízo e tolo morreu dias depois."

terça-feira, 26 de julho de 2011

D. Afonso V, O Africano

Este Rei D.Afonso V, era filho de D. Duarte e neto de D.João I que iniciou a dinastia de Avis.
As governações do reino destes seus ascendentes bem como a do seu próprio filho D. João II, o Príncipe Perfeito, tem ofuscado a sua imagem. Mas, na verdade, o reinado de D. Afonso V foi fértil em acontecimentos que engrandeceram Portugal.
Os descobrimentos marítimos prosseguiram em bom ritmo tendo sido descobertas em 1452 as ilhas das Flores e do Corvo, nos Açores, e em 1456 é atingido o rio Geba na Guiné Portuguesa. Nesse mesmo ano as ilhas orientais de Cabo Verde foram descobertas por Cadamosto. Pero de Sintra chega à Serra Leoa em 1460. Nesse mesmo ano Diogo Afonso descobre as ilhas Ocidentais de Cabo Verde. Sob o comando de João de Santarém e Pero Escobar as caravelas portuguesas chegam ao Cabo das Três Pontas, aonde afluía o ouro do centro de África, cabo que por causa disso, passou a chamar-se da Mina. Fernando Pó entre 1471 e 1472 descobre a ilha que tem o seu nome e em 1472 é descoberta a ilha do Príncipe e pouco depois a de S. Tomé.
Mas, no reinado de D. Afonso V não só se prosseguiram as descobertas em bom ritmo como também se obtiveram resultados económicos positivos da exploração das terras descobertas e do comércio marítimo.
Por outro lado D. Afonso V levou a efeito ainda a conquista das praças fortes marroquinas como Alcácer Ceguer,  Arzila e Tânger. Obteve também Anafé, Larache e Tetuan.
Com Ceuta que havia sido tomada no reinado de D. João I, seu avô, tais conquistas representavam o domínio por Portugal da costa sul do estreito de Gibraltar.
No exercício do poder não foi, porém um rei autoritário como viria a ser o seu filho D. João II. Foi afável no trato, tendo também concedido muitas mercês e senhorios.
Desconcentrou e descentralizou o poder tendo ajudado a estruturar uma nobreza forte e activa.
Os descobrimentos e a inerente exploração das novas terras não trouxeram só vantagens para a Coroa, também as trouxeram para a nobreza, para a burguesia e para o semi-proletariado das cidades.
O estilo de D.Afonso V era dialogante e popular. Gostava de aparecer junto dos seus súbiditos, de ser visto a conviver com a população.
Visitava as casas nobres espalhadas por todo o reino, pondo ao corrente os seus donatários dos interesses e problemas do país. D. Afonso V, numa passagem em 1467 pelo norte de Portugal, albergou-se na casa de Fernão Coutinho em Porto Carreiro (entre Amarante e Marco de Canavezes) onde se encontrava uma jovem  antepassada de João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos de quem descendo. D. Afonso V já viúvo teve nela "seu ajuntamento, de sorte de que de ambos nasceu um menino a quem puseram o nome de Álvaro"
D. Álvaro, fidalgo nos tempos de D.Manuel e de D.João III, foi vereador da cidade do Porto por três vezes e dela seu guarda-mor. O referido João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos, meu antepassado, era décimo neto de El Rei D. Afonso V, em resultado da ligação que atrás referi.
Foi também D. Afonso V quem mandou construir a muralha de Viseu, cidade onde moro, muralha que circundava a antiga cidade e de que ainda existem alguns trechos e duas das suas sete primitivas portas: a dos Cavaleiros e a de Soar de Cima. Nesta última porta há a seguinte inscrição: "D. Afonso V mandou fazer em 1472".

quarta-feira, 20 de julho de 2011

D. João I, o de Boa Memória

Hoje a minha atenção fixa-se em D.João I, rei que iniciou a segunda dinastia da Monarquia Portuguesa.
D.João I foi filho bastardo de D. Pedro I, resultando de uma ligação que este último teve com D. Teresa Lourenço fidalga galega residente em Guimarães. Não foi, portanto, filho de D. Constança esposa legítima de D.Pedro nem de Inês de Castro, o grande amor da vida do referido rei.
D.João I, antes de tomar as rédeas da governação de Portugal, foi mestre da Ordem de S. Bento de Avis. E foi em Avis que se enamorou da filha de um sapateiro de Veiros, "O Barbadão", de quem teve uma filha de nome Brites e um filho de nome Afonso.
Este Afonso, filho bastardo de D.João I, tendo casado com a única filha de D. Nuno Alvares Pereira de nome Beatriz , recebeu de seu pai as terras e julgados de Neiva, de Aguiar, de Darque, Faria e todos os bens confiscados ao conde de Barcelos D. Gonçalo Telo que "desservira" o Rei, recebendo também o título de Conde de Barcelos.
Por outro lado recebeu de Nuno Alvares Pereira, seu sogro, Chaves, Montenegro, Montalegre, Barroso, Baltar, Paços de Ferreira e o condado de Ourém. Quando Nuno Alvares Pereira resolveu despojar-se de todos os seus bens e recolher ao Mosteiro do Carmo, D. Afonso recebeu ainda mais terras com o que construiu os alicerces do docado de Bragança.
Como é do conhecimento geral D.Nuno Alvares Pereira venceu os Castelhanos em Atoleiros, Trancoso, Aljubarrota e Valverde. Mas foi Aljubarrota a batalha decisiva na contenda com Castela e onde se cobriu de glória.
Quando teve conhecimento que as tropas castelhanas tinham entrado em Portugal e se dirigiam para Lisboa com vinte e cinco mil homens, D. Nuno aprontou-se a enfrentá-las cortando-lhes o caminho.
D. João I e alguns dos seus conselheiros não estiveram de acordo com essa decisão pretendendo antes entrar em Espanha pelo Alentejo, como retaliação à invasão castelhana. Mas o Contestável insistiu na sua ideia e com três mil homens a cavalo, trezentos besteiros e dois mil peões marchou imediatamente ao encontro dos Castelhanos de forma a cortar-lhes o passo. Em resultado da sua acção D.João I acabou por se lhe juntar em Tomar.
D.Nuno Alvares Pereira dispôs as tropas em lugar adequado e fez construir engenhoso dispositivo de fortificação e defesa.
Pela forma como D.Nuno se distinguiu na batalha decisiva de Aljubarrota, cobrindo-se de glória, levou mais tarde o rei a conceder-lhe diversas terras e benesses. Muitas dessas terras acabaram na posse da sua filha D. Beatriz casada com D. Afonso, bastardo de D.João I permitindo-lhe fundar o Ducado de Bragança. Este neto do "Barbadão", sapateiro de Veiros, foi o primeiro duque de Bragança e, muito mais tarde, um seu descendente, o oitavo Duque de Bragança inaugurou a quarta dinastia da Monarquia Portuguesa. como Rei D.João IV - O Restaurador.
NOTA: Na árvore genealógica da ascendência de João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos, Senhor da casa da Seara em Magrelos - Marco de Canavezes - elaborada por um seu tio frade em 1762 consta que o seu referido sobrinho era:
- sexto neto de D. Diogo Alvares Pereira;
- décimo segundo neto de D. João Alvares Pereira, Senhor da Casa dos Condes da Feira.
Na referida Casa brasonada da Seara nasceu e cresceu a bisávo Ana Augusta do autor deste escrito, descendente do referido João Pereira de Almeida Beça de Vasconcelos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O temperamento dos portugueses

O temperamento dos portugueses nunca se coadonou muito com o trabalho persistente e continuado.
Em Portugal houve sempre falta de artífices- A nossa grande inclinação tem sido o comércio.
Desde os primórdios da nossa vida como nação sempre proliferou o tráfico comercial na nossa orla marítima e os portugueses sempre concentraram as suas energias nas terras da beira-mar, em prejuízo das do interior.
Já no tempo de D. Fernando assim acontecia e, muito embora as legislações agrárias elaboradas na altura (Lei das Sesmarias) as herdades deixaram, progressivamente, do ser cultivadas acabando por nelas crescer o mato, como também acontece hoje...
Além do gosto pelo comércio também os portugueses sentiram sempre uma grande atracção pela actvidade de funcionário do Estado actividade que nunca obrigou a grandes esforços e sempre beneficiou de uma certa auréola de importância aqueles que a desempenhavam. Com o funcionalismo têm-se caído no exagero desde há muito. Já no tempo de D.João I parece que em seis pessoas que se juntassem uma era seguramente funcionária pública.
Hoje quase acontece isso também...
Mas o comércio, segundo se depreende da singular obra de António Sérgio "Breve Interpretação da História de Portugal" foi e ainda é a principal motivação da vida dos portugueses. E o auge dessa actividade foi atingido no tempo das descobertas, quando Lisboa se tornou no maior empório comercial do mundo, com o seu porto repleto de navios e as suas ruas devassadas por mercadores das mais diversas paragens. É que antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia os turcos, dominando o Levante, dificultavam a extraordinariamente o comércio com o Oriente.
A pimenta, por exemplo, que se vendia na Índia por dois a três cruzados o quintal era sujeita a pesados impostos nos pontos de passagem vendendo-se no Cairo a oitenta cruzados. Com a descoberta do caminho marítimo para a Índia foi possível, em Lisboa, comercializar-se o quintal de pimenta a trinta cruzados. Lisboa foi o maior centro comercial do mundo durante muitos anos. Por Portugal passava imensa riqueza. Mas só passava porque era no estrangeiro que essa riqueza fomentava trabalho. E de lá, do estrangeiro, nos vinha quase tudo o que consumíamos.
Como acontece, praticamente, hoje também...
O país, no tempo das descobertas, embora vivesse aparentemente no esplendor endividava-se para comprar cereais nos mercados europeus. Em fins de 1543, segundo António Sérgio, deviam-se em Flandres somas enormes pagando juros tão altos que as importâncias em dívida dobravam em quatro anos.
Não seria uma situação muito diferente da que atravessamos nos dias de hoje...
Mas isso não impediu nunca que em Lisboa se organizassem, com frequência, "cortejos em que luziam os rubis de Pegu e os diamantes de Nassinga, as safiras de Ceilão e as esmeraldas da Babilónia, se exibiam sedas da Pérsia e tecidos de Bengala, os veludos, as rendas, os anéis..."
De noite havia folguedos no Tejo, para o povo e os serões do Paço Real tinham fama em toda a Europa.
Em Lisboa havia músicos por toda a parte. Ninguém trabalhava nem produzia. Os barbeiros e os sapateiros eram estrangeiros.
D. Manuel I mandou, mesmo, procurar trabalhadores fora do país, como operários da construcção civil.
Vivia-se uma vida de aparências. Como hoje ...
Tal como acontece também no presente com alguns nossos contemporâneos que percorrem as artérias das cidades nas suas potentes e ruidosas máquinas automóveis, os fidalgotes desses tempos exibiam-se "pelas ruas, com mula ajaezada de oiro e muitos lacaios agaloados".

terça-feira, 10 de maio de 2011

O nascimento de Portugal

D.Afonso Henriques, como está historicamente comprovado, nasceu com um grave defeito nas pernas, tendo possivelmente sofrido de paralisia infantil nos primeiros anos da sua vida. Quando se teve conhecimento do facto foi um drama na Corte do Conde D.Henrique, em Guimarães. E foi decidido que D.Afonso fosse entregue aos cuidados de D.Egas Moniz, senhor de Ribadouro, passando a viver desde tenra idade em Resende, no Paço de D.Egas.
D.Egas Moniz era um rico-homem, a mais alta qualificação de nobreza e detentor de uma enorme extensão de território junto ao rio Douro. Tinha diversos filhos um dos quais da mesma idade do Infante D.Afonso.
E comungava do ideal do Conde D.Henrique e de muitos outros nobres portucalenses: a idenpendência de Portugal.
A quando da morte do Conde D.Henrique seu filho Afonso tinha apenas três anos de idade. É de admitir por isso que D.Egas Moniz tenha passado a preocupar-se até à obsessão com a saúde do Infante pois ele era o único descendente directo do Conde e o que possibilitaria a realização da independência de Portugal.
A cura das enfermidades de D.Afonso Henriques, verificada inesperadamente, está envolta numa lenda que julgo pouco credível. Segundo Egas Moniz como a saúde do infante não melhorasse recorreu à intervenção divina. Teria solicitado as boas graças da Virgem Maria quando se encontrava no seu Paço de Resende. Consta que a sua fervorosa prece foi prontamente atendida, pois Nossa Senhora, aparecendo-lhe em sonhos, lhe solicitou que procurasse em Cárquere, nos arredores de Resende uma sua imagem enterrada pelo Rei Rodrigo quando os Árabes invadiram a Península Ibérica. Ainda, por indicação da Virgem, D.Egas, depois de recuperada a imagem, tê-la-ia colocado bem como ao pequeno infante sobre um altar improvisado. Então D.Afonso Henriques ficou logo completamente curado. O milagre foi tão completo que o menino, libertado das suas enfermidades cresceu e tornou-se num jovem robusto tendo gozado sempre de boa saúde e usufruído de uma vida muito activa até à data da sua morte aos setenta e quatro anos.
Parece ter sido, durante toda a sua longa existência, um homem forte e resistente, de boa compleição física, muito semelhante ao do seu alferes-mor D.Egas Lourenço, "O Espadeiro", filho de D.Egas Moniz, a quem de resto tratava de irmão.
A dúvida que tem persistido durante séculos é se o Afonso Henriques da nossa história, fundador de Portugal, não terá sido mesmo o irmão do Espadeiro da mesma idade que a do filho do Conde D.Henrique e se o verdadeiro Afonso Henriques por não ter resistido à sua doença não terá morrido jovem tendo sido sepultado no mosteiro de Paço de Sousa, como sendo filho de D.Egas. Neste mosteiro estão sepultados o senhor de Ribadouro, a sua mulher e quase todos os seus filhos.
Se assim aconteceu jazerá em Paço de Sousa o filho do Conde D.Henrique e de D.Teresa enquanto que o filho de D.Egas da mesma idade de Afonso Henriques terá tomado o comando do Condado Portucalense que elevou a reino e se encontra sepultado na igreja de S.Cruz em Coimbra.
Se assim foi, o que se poderá comprovar actualmente com o estudo do ADN dos restos mortais das personalidades em causa, a nossa história foi iniciada com um grande imbróglio. E sendo assim D.Gonçalo Viegas, bisneto de Egas Moniz, que por ser muito esbelto foi chamado de Magro ( dando origem a uma das nossas famílias mais antigas) era sobrinho neto do primeiro Rei de Portugal.
Incentivado pelo meu neto Manuel Gonçalo vou hoje iniciar esta página pessoal.
Nela abordarei momentos da nossa história que me parecem mal explicados ou até possivelmente alterados.
Além de interpretar episódios muito anteriores ao tempo em que vivemos também não deixarei de comentar factos que nos estão relativamente próximos.
Ao referir possíveis enganos e omissões dos nossos antigos cronistas espero poder contribuir de alguma forma para uma reflexão sobre acontecimentos controversos da nossa história.
Esta minha página pessoal terá por tema: "Portugal e o passado"
E o primeiro assunto que tratarei num futuro próximo relacionar-se-á com D.Afonso Henriques e o nascimento de Portugal.