domingo, 10 de maio de 2015

A travessia aérea do Atlântico-Sul

Em 1922 os portugueses foram de novo percursores em viagens transatlânticas. Desta vez, não por navegação marítima, mas por via aérea ligando Lisboa ao Rio de Janeiro, no Brasil.
Dois homens foram os intérpretes do espectacular empreendimento aerogeográfico entre a Europa e a América: Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
O primeiro era um marinheiro muito experiente que criou um corpo de doutrina notável sobre técnica náutica, que adaptou à aeronavegação tendo em vista viagens oceânicas e de longo curso.
Em 1913 cria o astrolábio de precisão, conhecido por sextante de bolha.
Cria com Sacadura Cabral o corrector de rumos para navegação estimada.
Sacadura Cabral era piloto aviador naval. Foi dos primeiros oficias que obtiveram o diploma de piloto aviador em França. Especializou-se depois na pilotagem de hidroaviões.
Antes da viagem aérea Lisboa - Rio de Janeiro já havia realizado os seguintes vôos:
Ferrol - Lisboa em 1920 e Lisboa - Madeira em 1921.
Em 30 de Março de 1922 iniciaram os dois a sua heróica viagem tendo a primeira etapa da sua travessia do Atlântico-Sul acabado em Las Palmas nas ilhas Canárias, onde reabasteceram o seu hidroavião "Lusitânia".
A segunda etapa terminou na ilha de S. Vicente, em Cabo Verde.
E a terceira ligou Cabo Verde à ilha de Fernando Noronha. Na ligação desta ilha com o Rio de Janeiro às dezasseis horas do dia 18 de Abril de 1922 acaba praticamente a gasolina do "Lusitânia" restando apenas 24 galões no tanque, e às dezassete horas desse dia avistam os penedos de São Pedro e São Paulo (que são território brasileiro) e o cruzador República que deveria reabastecer o hidroavião. Os dois aviadores não tiveram outra solução senão amarar junto dos referidos penedos.
Nesta operação um dos flutuadores do hidroavião quebrou-se ao tocar na água e  o  aparelho   afundou-se em pouco tempo.
Os dois aviadores foram recolhidos pelo referido cruzador e levados para a ilha de Fernando Noronha, onde esperaram por uma nova aeronave. Daquela ilha partiram num novo aparelho em 11 de Maio de 1922, tendo sobrevoado os penedos atrás referidos e seguido em direcção ao continente brasileiro. Mas duas horas mais tarde, depois de terem sobrevoado os referidos penedos, o motor do novo hidroavião falhou também o que os obrigou a nova amaragem de emergência. Só ao fim de algumas horas o motor voltou a trabalhar, mas passado algum tempo sofreu uma nova avaria que foi irremediável. O comandante do cruzador República, que os esperava algumas milhas à frente estranhou a demora e lançou um alerta. Os dois aviadores foram posteriormente recolhidos pelo navio inglês Paris City.
O governo português dada a referida situação, envia para Fernando Noronha o hidroavião Vera Cruz. E é com ele que os dois portugueses completam a viagem, chegando ao Rio de Janeiro, no Brasil, a dezassete de Junho de 1922.
Aí foram recebidos pelas autoridades brasileiras como heróis, sendo-lhes prestadas diversas homenagens.
O povo esse ocorreu em massa para os receber e nas ruas da referida cidade foram levadas a cabo diversas manifestações populares de regozijo, manifestações que se estenderam a várias cidades do Brasil.
Em Portugal também foi um delírio quando regressaram ao país primeiro em Lisboa junto à estação do Rossio e mais tarde na cidade do Porto. Nesta última cidade o comandante Gago Coutinho foi recebido na Câmara Municipal estando presentes as figuras mais ilustres. O povo também quis manifestar a maior admiração pela audácia da ligação aérea efectuada, acorrendo também em massa à recepção a Gago Coutinho. Os estudantes da Academia Politécnica do Porto fizeram alas à entrada do Município e estenderam as suas capas sobre as quais caminhou o comandante antes de entrar no edifício camarário. Entre esses estudantes estava presente meu pai, um jovem que cursava engenharia na Escola Politécnica do Porto de nome Acácio Alberto Lamares Magro.

Sem comentários:

Enviar um comentário